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uma história bonita sobre o amanita

  • Auteur de la discussion Auteur de la discussion alice
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alice

Holofractale de l'hypervérité
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9/7/03
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"Frequente pela orla da floresta logo que havia sol era o amanita, o cogumelo encarnado que crescia entre as bétulas e se alimentava dos sucos das suas raízes. Tunturi atentava nos grupos de amanitas: nos seus chapéus germinavam, contidos, turbilhões solares. Um dia, uma mulher do norte, de idade enorme e incerta, falara-lhe dos dons divinos da película e da polpa, da grande embriaguês que condecem e transforma Eu e Mundo. As próprias renas - alguém contara a Tunturi - comiam os cogumelos vermelhos, sôfregas dos seus sabores, e enloqueciam sobre os seus efeitos. Como, sendo assim mágicos, se dissimulavam discretos na serenidade dos bosques estivais?
Tunturi sabia que o amanita continha o sol, nascente das vidas e das cores inúmeras que animam o mundo. Quem o tomasse irradiava sol e crescia em saberes, confidente dos deuses! Poder prodigioso confiado a um cogumelo que a mão come e macera... erupção de mil sóis, quando o iniciado é centro coruscante do universo - como o símbolo solar que, no umbigo dos tambores dos Sámi*, ordenava o conjunto dos cosmo, eixo do mundo, que em seu redor dispunha astros e deuses e pressagiava as sortes do porvir.
Às vezes, nos caminhos do bosque, Tunturi desprendia o mais belo amanita de entre o grupo, trazia-o e deixava-o secar. Algum dia, quando a hora convidasse, dividia-o, triturava-o, misturava-o numa concocção com ervas de aromas e aquecia-a até que um vapor saísse do fluído borbulhante. E mal o infuso arrefecesse um pouco levava-o aos lábios com prudência: hesitava sempre ante o primeiro golo, mas o cheiro das ervas tranquilizava-a. A sorvos lentos absorvia então a bebida onde o filtro e o fogo se continham.
Ah! Ficar sentada frente ao lago, diante do mundo... sentir chegar a força transmigradora... Cores de sangue que raiavam o espaço volviam violentas e despertavam sons ocultos... o tacto das mãos sobre a terra suscitava segredos não suspeitos... Ser levada às origens, ao céu supremo onde a água e o fogo jorram das primeiras fontes... e o corpo, desmedido, prolonga desejos desmedidos! Sentir o contacto encantado do cosmos... Tocar o interdito, ciumado pelo Ser e sempre recusado...
Lentos, graves piados de uma coruja repetidos sem fim soavam pela floresta, ecoavam sob a cúpula do céu; e rasgavam o silêncio como apelos do além, conduzindo aos confins - enquanto, erguida ao alto espaço, ou recolhida aos antros subterrâneos, Tunturi entendia enfim segredos que o urso e o alce, o grou e o cisne sagrados segredavam. E os deuses perdidos ressurgiam do nevoeiro, sábios e gigantescos, a guiá-la pelos domínios mais vedados.
Pela luz cinzenta turbilhoavam cores. Quando a noite descia no tempo extraviado, os astros preluziam no céu, no lago, no corpo de Tunturi e no seu desejo, e, se alguém pudesse olhá-la, nos seus olhos. Erguia-se o monstro dos abismos, ao longe sobre o lago; o vento extraía da floresta músicas e mensagens. O amanita-luz iluminava o pensar e o sentir, misturava os sentidos numa estranha unidade que fundia Eu e Mundo, futuro e passado, e os domínios vedados da vida e da morte.
Um fogo fervilhante anima as voltas vãs que damos pela noite... como o rufo antigo dos tambores sagrados que chega do infinito e faz pulsar o desejo de vida, o negro sol do enigma suscitando presságios para a clarificação terrível do futuro".

* índios da Lapónia finlandesa.

em TUNTURI, de António Vieira
 
WOW!

Ultimamente tenho ouvido histórias que me têm deixado muito curioso sobre esses cogumelos....
 
querido schizotypal36! ,

eu gosto muito do teu psicoativo preferido ;)

alice
 
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