No último dia da conversa dos três mil anos temos que devolver o vídeo do Waking Life até às sete horas. Faz sol e vamos deitar-nos em Waterlooplein, no largo em frente ao prédio da ópera, numa espécie de arena sem propósito definido.
- How do you fly in your dreams, Marco? – pergunto-lhe.
- I start going up, until I reach the sky, and then I wake up. – responde-me. – Just like the guy in the film. It’s like I loose contact with gravity, you know? And you?
- I swim in the air. – digo-lhe. – I jump from high places and then move my arms and legs as if I’m in the water. Do you think the guy in the film woke up in the end?
- Yeah, and died!
- I personally think he was dead already.
- Yeah, it could be. But he didn’t know it.
- So you think when he woke up from the dream he finally realized he was dead?
- Yeah, I guess. Have you ever thought that the sky, in this case, is just like the surface of the sea? Just like when we’re swimming and being pulled up?
- Wow! I never thought of that!
- Me neither! But its’ true, isn’t it?
- Yeah! And have you ever thought that Amsterdam is under water, and constantly surrounded by clouds? It’s the absolute dream land! Everything makes so much sense, doesn’t it?
- Sure does! And the more we talk and think about it the more coincidences we keep on finding! It just never stops!
- But where does it take us?
- I have absolutely no clue.
- Do you think if we woke up from this dream we would die?
- I think maybe we’re already dead, and that’s why all this is happening.
- Oh, that would be an explanation!
- Yeah, maybe we died when we met. I mean, after that it all started getting stranger and stranger, right?
- Yeah! Maybe we just collapsed at the door from the cantina when we said hello for the first time and walked straight into another dimension without noticing it!
- It could be! It would explain why everything is so much like a dream lately!
- That’s it, we’re dead! – digo.
- Yeah!
Um amontoado de serpentinas passa por nós, rolando na estrada, e vai agarrar-se a uma árvore, com o vento a bater-lhe. Uma mãe empurra a filha num carrinho de brincar com umas grandes rodas, entram na arena onde estamos sentados, e parece que começam a desaparecer pelo chão.
- Alice, it’s too much! – diz o Marco. – It just goes on and on and on, doesn’t it?
- Yeah, it’s even too fast! We don’t have the time to notice everything!
A arena tem a forma de um anel que gira até pousar, e a mãe e a filha voltam a surgir na parte rente ao chão, após terem estado encobertas pela parte mais alta. Quando me mexo, outro amontoado de serpentinas, igual ao que passou por nós há pouco, desprende-se repentinamente das minhas costas e eleva-se com grande velocidade no ar até bastante alto. Eu assusto-me e dou um grito.
- Wow! What happened? – pergunta o Marco.
- The shreds were stuck to my back and when I moved they flew away!
Ficamos os dois maravilhados a olhar para as serpentinas coloridas, que voam cada vez mais alto pelo céu , até se perderem de vista.
- Amazing! – diz o Marco.
Ouvimos bater as seis e meia na torre de uma igreja, e lembramo-nos que temos de ir ao clube de vídeo. Quando saímos de lá sentamo-nos novamente ao sol, à porta. Reparo que ambos vestimos T-shirts brancas.
- Let’s go get some money and have dinner at the cantina! - sugiro.
- OK.
Levantamo-nos e dirigimo-nos para a caixa automática mais próxima, que fica em Waterlooplein. Ainda há bastantes objectos abandonados pelo chão do mercado hippie. Objectos e roupas em segunda mão, que não se venderam e podem ser reciclados. Avisto uma carta de jogar, virada de costas para cima, e apanho-a. O Marco olha para mim para ver o que estou a fazer, e eu encosto a carta à perna, sorrindo, e digo-lhe:
- Guess!
Ele responde: - The queen of… - e faz com os dedos o gesto dos ouros. Viro a carta e é a Dama de Ouros. Nenhum de nós se apercebe de que ele acertou. Eu imagino que para além da dama também há uma rainha, e ele não percebe muito de cartas. Comento:
- Close!
Mas depois ele diz:
- Wait a minute! That’s it! That’s the card I said!
E eu apercebo-me que ele tem razão.
- Yeah, it is!
- Fucking hell! Alice, how many cards are there in the packet?
- About forty, I think…
- And I guessed which one this was!
- Well… I’m not even surprised anymore, Marco! I mean, are you?
- I’m shocked! – responde. – Aren’t you?
- Yeah… no, I don’t know! I mean, if we believe that we’re living in some kind of a dream, and so being that we can do anything we want, then this is just a confirmation! And now you’re surprised? What about all the rest?
- But this is just too much, don’t you think?
- Not really.
- Fucking hell! - continua ele a dizer. Depois levantamos dinheiro e voltamos a passar pelo mercado. Há um monte de roupas e objectos abandonados pelo chão, e o Marco avista algo cor de rosa.
- What is that? – pergunta ele, desviando-se da nossa rota para ir admirar e apanhar o objecto descoberto. Trá-lo em direcção a mim e continua a perguntar:
- What is this?
Trata-se de um brinquedo, um mini-ginásio para Barbie’s, com uma daquelas bicicletas sem rodas, apenas com pedais, para o treino das bonecas. Respondo-lhe, sem hesitar:
- That’s a time machine.
- You think so?
- I’m quite sure. – respondo. – What model is it?
- I don’t know...
- Let me take a look. – peço-lhe. – Oh, I see, it’s an FFG0203.
- Yeah, a Fun Fun Gym, I see it too. How does it work?
- Well, you have to stick your finger in that ring, and then roll the pedals. I’m not sure it’s working, though, sense it was thrown away.
- Yeah. Let’s try it, anyway.
- OK.
Mas nada parece acontecer. Seguimos para a universidade, e encontramos duas máquinas de lavar roupa brancas, uma ao lado da outra, abandonadas no passeio. Ficamos a observá-las durante um bocado, a abrir as portas e a carregar nos botões. No canal passam dois cisnes brancos, e paramos a admirá-los da ponte. Finalmente entramos pela porta da esplanada da universidade, e só quando chegamos à cantina nos lembramos que é sexta-feira, e que esta fechou mais cedo. Então saímos pela outra porta, a da entrada principal, e quando chegamos à rua o Marco exclama:
- This is where we died!
E percebemos que a máquina do tempo afinal funciona perfeitamente, e que nos transportou de volta ao momento em que morremos.
- How do you fly in your dreams, Marco? – pergunto-lhe.
- I start going up, until I reach the sky, and then I wake up. – responde-me. – Just like the guy in the film. It’s like I loose contact with gravity, you know? And you?
- I swim in the air. – digo-lhe. – I jump from high places and then move my arms and legs as if I’m in the water. Do you think the guy in the film woke up in the end?
- Yeah, and died!
- I personally think he was dead already.
- Yeah, it could be. But he didn’t know it.
- So you think when he woke up from the dream he finally realized he was dead?
- Yeah, I guess. Have you ever thought that the sky, in this case, is just like the surface of the sea? Just like when we’re swimming and being pulled up?
- Wow! I never thought of that!
- Me neither! But its’ true, isn’t it?
- Yeah! And have you ever thought that Amsterdam is under water, and constantly surrounded by clouds? It’s the absolute dream land! Everything makes so much sense, doesn’t it?
- Sure does! And the more we talk and think about it the more coincidences we keep on finding! It just never stops!
- But where does it take us?
- I have absolutely no clue.
- Do you think if we woke up from this dream we would die?
- I think maybe we’re already dead, and that’s why all this is happening.
- Oh, that would be an explanation!
- Yeah, maybe we died when we met. I mean, after that it all started getting stranger and stranger, right?
- Yeah! Maybe we just collapsed at the door from the cantina when we said hello for the first time and walked straight into another dimension without noticing it!
- It could be! It would explain why everything is so much like a dream lately!
- That’s it, we’re dead! – digo.
- Yeah!
Um amontoado de serpentinas passa por nós, rolando na estrada, e vai agarrar-se a uma árvore, com o vento a bater-lhe. Uma mãe empurra a filha num carrinho de brincar com umas grandes rodas, entram na arena onde estamos sentados, e parece que começam a desaparecer pelo chão.
- Alice, it’s too much! – diz o Marco. – It just goes on and on and on, doesn’t it?
- Yeah, it’s even too fast! We don’t have the time to notice everything!
A arena tem a forma de um anel que gira até pousar, e a mãe e a filha voltam a surgir na parte rente ao chão, após terem estado encobertas pela parte mais alta. Quando me mexo, outro amontoado de serpentinas, igual ao que passou por nós há pouco, desprende-se repentinamente das minhas costas e eleva-se com grande velocidade no ar até bastante alto. Eu assusto-me e dou um grito.
- Wow! What happened? – pergunta o Marco.
- The shreds were stuck to my back and when I moved they flew away!
Ficamos os dois maravilhados a olhar para as serpentinas coloridas, que voam cada vez mais alto pelo céu , até se perderem de vista.
- Amazing! – diz o Marco.
Ouvimos bater as seis e meia na torre de uma igreja, e lembramo-nos que temos de ir ao clube de vídeo. Quando saímos de lá sentamo-nos novamente ao sol, à porta. Reparo que ambos vestimos T-shirts brancas.
- Let’s go get some money and have dinner at the cantina! - sugiro.
- OK.
Levantamo-nos e dirigimo-nos para a caixa automática mais próxima, que fica em Waterlooplein. Ainda há bastantes objectos abandonados pelo chão do mercado hippie. Objectos e roupas em segunda mão, que não se venderam e podem ser reciclados. Avisto uma carta de jogar, virada de costas para cima, e apanho-a. O Marco olha para mim para ver o que estou a fazer, e eu encosto a carta à perna, sorrindo, e digo-lhe:
- Guess!
Ele responde: - The queen of… - e faz com os dedos o gesto dos ouros. Viro a carta e é a Dama de Ouros. Nenhum de nós se apercebe de que ele acertou. Eu imagino que para além da dama também há uma rainha, e ele não percebe muito de cartas. Comento:
- Close!
Mas depois ele diz:
- Wait a minute! That’s it! That’s the card I said!
E eu apercebo-me que ele tem razão.
- Yeah, it is!
- Fucking hell! Alice, how many cards are there in the packet?
- About forty, I think…
- And I guessed which one this was!
- Well… I’m not even surprised anymore, Marco! I mean, are you?
- I’m shocked! – responde. – Aren’t you?
- Yeah… no, I don’t know! I mean, if we believe that we’re living in some kind of a dream, and so being that we can do anything we want, then this is just a confirmation! And now you’re surprised? What about all the rest?
- But this is just too much, don’t you think?
- Not really.
- Fucking hell! - continua ele a dizer. Depois levantamos dinheiro e voltamos a passar pelo mercado. Há um monte de roupas e objectos abandonados pelo chão, e o Marco avista algo cor de rosa.
- What is that? – pergunta ele, desviando-se da nossa rota para ir admirar e apanhar o objecto descoberto. Trá-lo em direcção a mim e continua a perguntar:
- What is this?
Trata-se de um brinquedo, um mini-ginásio para Barbie’s, com uma daquelas bicicletas sem rodas, apenas com pedais, para o treino das bonecas. Respondo-lhe, sem hesitar:
- That’s a time machine.
- You think so?
- I’m quite sure. – respondo. – What model is it?
- I don’t know...
- Let me take a look. – peço-lhe. – Oh, I see, it’s an FFG0203.
- Yeah, a Fun Fun Gym, I see it too. How does it work?
- Well, you have to stick your finger in that ring, and then roll the pedals. I’m not sure it’s working, though, sense it was thrown away.
- Yeah. Let’s try it, anyway.
- OK.
Mas nada parece acontecer. Seguimos para a universidade, e encontramos duas máquinas de lavar roupa brancas, uma ao lado da outra, abandonadas no passeio. Ficamos a observá-las durante um bocado, a abrir as portas e a carregar nos botões. No canal passam dois cisnes brancos, e paramos a admirá-los da ponte. Finalmente entramos pela porta da esplanada da universidade, e só quando chegamos à cantina nos lembramos que é sexta-feira, e que esta fechou mais cedo. Então saímos pela outra porta, a da entrada principal, e quando chegamos à rua o Marco exclama:
- This is where we died!
E percebemos que a máquina do tempo afinal funciona perfeitamente, e que nos transportou de volta ao momento em que morremos.